Wikipiada

Estou sendo alvo de uma bobagem na Wikipedia. Uns administradores irão tirar a página com meu nome do ar. A justificativa: autopromoção. Ora, sob minha óptica, ter um verbete (que estão chamando de autobiografia) nesta “enciclopédia”, é motivo de vergonha e desconfiança para mim. Sempre digo aos meus alunos para não pesquisarem na Wikipedia, para não confiarem em seus verbetes. Claro, todos sabem que nada ali é totalmente confiável. Então resolveram, tarde demais, realizar uma “caça às bruxas”. Que besteira. Se nunca foi séria, não será agora que conseguirão o feito. Ora, se fosse um organismo sério, em vez de submeterem a página com meu nome a uma “votação”, em que, quem vota é somente administrador do site, deveriam pesquisar por aí a veracidade das informações. Basta uma visita à minha página pessoal ou uma pesquisa no sebo mais próximo ou na estante virtual, para perceber que nenhuma informação ali é descabida. Autopromoção? Que piada. Aí, tentei tirar eu mesmo minha página do ar antes que eu apele para questões de direitos autorais e eis que sou acusado de vandalismo. É ou não é o país da piada pronta?

O mito da igualdade

É lógico que ainda vivemos em uma sociedade machista e preconceituosa. Estava estacionando quando vi a batida: um carro entrava em uma oficina, sem dar seta. Ou seja: vinha a uma velocidade razoável e do nada resolve virar. Uma moto que seguia atrás acabou batendo na lateral do outro veículo. Até aí, acidentes acontecem, principalmente por imprudência. Só que o motorista do Fiat desceu avacalhando. Claro, assim que percebeu que quem dirigia a moto era uma mulher, se sentiu no direito de ignorâncias. Chegou impondo, gritando. A moça tirou o capacete, o pulso ralado, transtornada, pois havia caído no chão, a jaqueta rasgada. E falou alto também, mas na boa, reclamando que o sujeito só se preocupava com o carro e nem queria saber se ela havia se machucado. Verdade: ele só repetia que a porta estava toda amassada. E gritava, gritava, gritava. Queria a qualquer custo que a moça pagasse o prejuízo. Foi quando ela argumentou que ele não tinha acionado a seta. Aí, retomando o domínio de si, acrescentou que ligaria para o namorado, e sacou o celular. A partir de então, eu vi uma transformação no indivíduo imprudente: “ah, vamos deixar disso, fica por isso mesmo, tá tudo certo”. Como se ele percebesse, de repente, que o argumento do namorado da moça viria mais forte, porque era de um homem. E tremeu. De homem para homem, a questão era outra. A moça desistia de brigar. Se fosse adiante, ganharia o conserto de sua moto, bastante danificada com a batida. Devia ter ligado para a polícia, feito um B. O., colocado aquele sujeito em seu devido lugar de idiota.

Concursos

Este ano fiquei muito contente, porque a ALAMI resolveu me homenagear, dando o nome Whisner Fraga ao seu já bem conhecido Concurso Contos do Tijuco. É uma emoção tremenda, claro. Depois foi a história do Prêmio Luiz Vilela, o artista Anésio Azevedo com suas intervenções, levando minha crônica não-publicada às ruas. E, como eu sempre digo, um texto na rua tem vida própria. A gente nunca sabe em que mãos cairá. Anésio me contactou, concordei com a intervenção, por ver nela uma obra de arte, e melhor ainda, arte em progresso – a arte modificando a arte enquanto está sendo criada. É fantástico. Mas sou avesso a brigas, ainda mais políticas. Sou um sujeito pacífico, domado. Se alguém me chama a atenção, fico com dor de barriga, fico triste, cabisbaixo. Sei que nesta vida é impossível caminhar sem granjear inimigos e eu os tenho também, óbvio. A diferença é que nunca tive a intenção de recrutar nenhum. Se vieram foi porque tinham de vir mesmo e pronto. O que faço é sempre agradecer por tudo o que chega até mim.

Algumas palavras sobre o Concurso de Contos Luiz Vilela

Talvez os ituiutabanos não tenham uma ideia muito clara da importância do Concurso Luiz Vilela, que, durante mais de vinte anos, premiou contistas do país inteiro. O certame, que dava ao vencedor uma boa quantia em dinheiro, que recebia, a cada edição, em torno de mil trabalhos concorrendo ao prêmio, levava o nome de minha cidade natal aos cantos mais recônditos do Brasil. Digo isso com conhecimento de causa, pois, por onde quer que eu vá, quando respondo sobre Ituiutaba, logo já a conectam ao concurso.

Os livros editados com os dez melhores trabalhos circulam por todos os cantos. Recebo com frequência e-mails de gente pedindo exemplares, interessados em ler os contos selecionados. Quando relacionam o prêmio à cidade, logo pensam que aqui há políticos que valorizam a cultura, que reconhecem o valor da literatura. E é fato que deve ser louvado.

Estamos cansados de saber que uma parcela significativa da população saiu da faixa de pobreza, alcançando o status de consumidora. Os da classe C migraram para a B, os da B para a A, fazendo com que nosso povo tivesse acesso aos bens de consumo, embora continue sem acesso aos bens culturais, seja por desinteresse, seja por falta de dinheiro mesmo. Ações que saiam à captura de leitores só podem ser louvadas.

Posso garantir a qualquer um que venha me questionar, que os mil exemplares editados com os dez contos vencedores alcançam uma enormidade de leitores. Um livro em uma biblioteca, um livro lançado ao mundo, é sempre uma surpresa. Como vencedor da edição de 2007 do Prêmio Luiz Vilela, como autor selecionado em quatro outras oportunidades, posso afirmar que a antologia fez muita diferença em minha carreira.

Graças ao concurso, meu nome chegou aos ouvidos de antologistas e de pesquisadores que se interessaram pela minha escrita. Fui convidado a participar de importantes obras, caso da Geração zero zero, que mapeou os melhores escritores contemporâneos da década passada. Meu nome, de boca em boca, alcançou uma pesquisadora norte-americana, que passou a estudar meus dois últimos livros com seus alunos de pós-graduação. De boca em boca, minha prosa encontrou uma editora alemã, que se interessou pelo que faço e que traduzirá um texto meu para a Feira de Frankfurt, em 2013.

Poderia ficar aqui defendendo o concurso durante horas, mas acho que já dei uma boa amostra do meu pensamento. Por motivos que não pretendo abordar neste texto, o prêmio deixa de levar o nome do escritor ituiutabano mais conhecido no Brasil e no mundo. Não tenho dúvida nenhuma que grande parte do sucesso do Concurso Luiz Vilela se deveu ao fato de que o próprio Vilela gerenciava todos os passos do certame. Parece-me que ficou decidido que continuará a existir um prêmio literário em Ituiutaba, só que com outro nome. Não sei se será a mesma coisa, mas espero que sim.